Lembrança

Na década de 70, numa cidadezinha do interior do Paraná, onde nasci e vivi toda minha infância e adolescência e parte da vida adulta,  os vendedores ambulantes passavam de casa em casa para vender livros, as tão pesadas e "infinitas” enciclopédias, contos de fadas, discos de vinil e as lindas vitrolas portáteis.

Toda semana, minha mãe comprava um exemplar da Barsa, com ilustrações belíssimas e letras miúdas que encantava a família toda, eu e meus irmãos folhávamos com cuidado, somente na presença da matriarca. Os que já sabiam ler faziam o papel de leitor para nós, os pequenos, era justo, já estavam preparados para a tarefa.

Aconteceu que numa semana minha mãe nos surpreendeu com a aquisição da linda vitrola vermelha, pois na compra ganhou de brinde os livrinhos de contos de fadas e os disquinhos de vinil coloridos. As tardes passaram a ser mais envolventes, lembro-me que enquanto ouvia o conto folheava os livros que correspondia a mesma história, encantador! A voz do narrador, o cheiro do livro, o medo de correr pela sala para não riscar o disco, o assoalho era de madeira.

O que eu mais gostava era o disco amarelo, Bambi, que começava assim: “Nasceu, nasceu, nasceu o principezinho!” Bambi nascera e com ele o meu gosto pela leitura, meu apego ao fantástico, minha eterna gratidão pela atitude bondosa de minha mãe.

Professora Mirene, São Bernardo do Campo.